Tem um mistério teu morando nos meus dias. É silêncio, estranho, não tem
tu, não tem meu pensamento atravessando quando eu me ponho a pensar. Me
pego preso, só, sou eu ali num canto chorando pelo desconhecido do
amanhã.
O que se faz quando um silêncio decide morar nos dias? Nada. A gente se cala e ouve a si, meio aos ecos do mundo, de uma
existência. Vozes que decidiram se calar. Vazios gritando dentro de si, a música da nossa alma.
Tu ainda vai me amar
amanhã de manhã? O pensamento pertence a tudo menos a mim. Mente, e a
mente pertence a tudo menos a mim. O corpo sabe lá se vai aguentar o
baque quando respirar. A verdade as vezes dói. O coração não sabe se aguenta.
A verdade em ser,
em viver, sonhar. Ela assusta, ofende. Medo? Tenho do mistério de como
será o amanhã, nessas horas eu não queria ser Deus, insuportável saber de tudo. O pouco que sei é suficiente para me por na beira da loucura.
Há coisas que jamais descobrirei, vazios que
sempre existirão, perguntas que jamais me serão respondidas, mas eu
acredito na verdade dos tempos. Eu algum dia existi? Eu sou? Eu estou?
São verdades que não dependem só de mim.
Sem ninguém, eu nem
sou. Infelizmente sou condicional. Se bastar as vezes não basta. Que
Deus perdoe a minha loucura, meus medos, minha condição. Tem horas que me perco de mim mesmo.
Hoje
tem um mistério morando em mim, pela tua voz ele estará livre. Será
uma oração, dirá uma palavra e estarei salvo, do próprio fim, da
solidão, da loucura que me assombra, do medo que me apavora.
Estarei livre até mesmo de mim.
Amém