Qual distancia guarda nosso peito das coisas que são nossas?
Aqui, não é agora. Tenho andado fora de tempo, fora de espaços. A vida se entortou, se estranhou de si, nem sabe mais ser vida, vivida, esqueceu como chegou até aqui. Longe de tudo, é vácuo, é estático, vidros, bipes e janelas fechadas enfeitam as paredes.
Certas distancias são insuportáveis de se viver, houve dias que eu estava a anos luz de mim, em outros eu era tão eu, que me estranhei e me senti distante até mesmo de mim. Perto e longe. A gente é assim, guarda os dois lados do mundo dentro de nós.
De longe tudo é um ponto, perto, sou eu tentando entender a origem das coisas. Sem entender bem o mundo, as pessoas e a vida, passeio pelo céu buscando achar a verdade que explique os dias. Ar rarefeito, silêncio, azul e eu voando sobre os homens. O mundo está em guerra.
Estou longe, até eu mesmo fico para trás nessa subida. Por um momento sou só eu, um corpo, ausente de tudo que se possa imaginar. Livre até mesmo de mim. Tudo que há é o minimo para se sobreviver, o pensamento nem chega a existir.
O tempo anda esquecido de si, os espaços trocados. Onde anda Deus? Entregues a própria natureza, somos somente criaturas, trocando as palavas, esquecidos de velhos hábitos. Ainda me lembro de quando era fácil escrever.
Devagar, assisto o espaço ser rasgado, as luzes da cidade ficarem para trás. Sou testemunha de coisas que ficaram esquecidas quando me pus a mudar. O tempo fugiu de mim, vivo fora de hora, sem saber de momentos, fogos e até mesmo de dias.
Extrapolado, estou sobrando em uma linha, a do espaço-tempo, sobrei numa curva. Distante de qualquer luz que se possa ser pelo menos ouvida, hoje, eu me sinto longe de tudo que um dia já me pertenceu. Cheguei até aqui, sem saber que não estou no agora.
É longe, não faz diferença se perguntar, como cheguei até aqui, quando tudo aconteceu. Agora, não aqui, não perto, diferença nenhuma existe. Tudo está longe.