Nossa historia é toda errada, torta, acontece fora de tempo e espaço. Certas vezes nem é nossa, é só minha, pois meio a tudo sou só eu, não há tu. Sou eu ali contando do mesmo velho amor que nunca vivi.
Não me lembro de poder te sentir em verdade, por inteiro, comigo. Haviam partes de ti que não estavam ali, coisas que ficavam escondidas num canto qualquer, hiatos sem explicação, silêncios, fantasmas que assombravam os teus dias. Esses fantasmas, eram só teus.
Te ver partir já não era mais novidade, são cenas de um filme que eu já conhecia, desfechos que conseguiria prever. Erros conhecidos e o mesmo velho coração esperando a grande novidade. Se ferir não seria novidade, com o tempo aprendi a apanhar.
Por muito tempo lutei por nós dois, e isso era tudo que eu mais queria, poder te viver em verdade e por inteiro. Tu teve sempre o meu melhor, mas tudo dependia só de mim, até que um dia não havia mais eu. Isso não esteve sob seu controle. Não houve mais quem lutasse por nós.
Fui desconhecido, estranho, um erro talvez, louco, o plano B, um alivio e fui mesmo, mas aquele, já não sou mais eu. Você jamais imaginou que as coisas seriam assim, não se pode esperar muito de uma historia feita em erro, forjada em omissão, toda torta.
Os erros são muitos e os mais diversos, eu errado te deixei fazer o que bem queria de mim. Houve dias que tu nem soube de mim, numa dessas eu aprendi palavras novas. Solto eu descobri o meu valor, fui mais eu e o teu temido "não". Nem eu imaginei o que estava por vir. Numa quarta feira eu descobri como te dizer adeus.
Lá em Recife eu me pus a nascer. No Carnaval eu me descobri, soube bem quem eu era, e não há forma mais linda de nascer, que não seja pleno Carnaval. Acordei e tu já não estava mais aqui, já não era mais eu. Na tua vida pesadelo, na minha o sonho que eu jamais pensei que fosse acontecer.
Novos amigos eu fiz, me pintei de cores que antes desconhecia, fui a lugares que nem imaginei existir, provei de humores que por muito tempo desconhecia. Sou filho do carnaval e não existiria forma melhor de nascer, se não em Olinda.
Tu perdeu o controle das coisas, se perdeu e me perdeu. Fui menino, bobo, gritos meio às ladeiras, o maracatu que deu o compasso pro meu novo coração, fui eu, em verdade, e com a verdade tu não pôde. Mal sabia tu que ali já não era mais eu.
Apesar de começar do jeito errado, essa historia acaba toda certa pois, de todos os erros que tu poderia ter cometido, o maior deles foi ter me levado pro Carnaval.